Resumo do conto A Aia, de Eça de Queirós
«A Aia» é um conto e, como tal, apresenta características específicas deste subgénero narrativo:
1. Unidade de ação
(O conto é uma narrativa breve e concisa, de enredo simples, apresentando um só conflito, uma única ação.)
A ação é despoletada pela morte do rei, que deixa o reino desprotegido. O irmão bastardo do rei ataca o palácio, levando a aia a trocar os bebés de berço. O filho da aia morre, salvando o príncipe.
Por fim, a ama suicida-se para ir amamentar o filho no Céu.
2. Número reduzido de personagens
(O conto apresenta um número reduzido de personagens, que são caracterizadas apenas nos seus traços essenciais, muitas vezes enquanto membros de um dado grupo social.)
As personagens são poucas e não têm nome próprio, sendo caracterizadas pela sua posição social ou grau de parentesco: o rei; a rainha; a aia; o príncipe; o filho da aia; o tio bastardo.
Destaca-se aquela que protagoniza a ação principal: a aia é a protagonista dos acontecimentos. A sua caracterização é mais detalhada, evidenciando densidade psicológica e moral.
3. Concentração temporal
(O esquema temporal é reduzido e o tempo cronológico é curto.)
O tempo da história é normalmente concentrado, recorrendo o autor ao sumário e à elipse para organizar o tempo do discurso.
Exemplos: «Era uma vez», «A Lua cheia que o vira marchar […] começava a minguar», «Ora, uma noite […]», «Então, rapidamente […]», «E nesse instante […]», «E, quando um servo destrancou as janelas, a luz da madrugada […]».
4. Concentração espacial
(A ação do conto desenrola-se, geralmente, num número limitado de espaços próximos.)
A ação desenrola-se no palácio, nomeadamente na câmara da aia e na sala do tesouro.
5. Modos de expressão
(No conto, a narração e o diálogo predominam, sendo a descrição subalternizada.
Predomina a narração. Encontramos discurso indireto livre, havendo apenas uma ocorrência de discurso direto: «— Salvei o meu príncipe — e agora vou dar de mamar ao meu filho!»
Categorias da Narrativa
1. Narrador
– quanto à presença: não participante;
– quanto à posição:
- subjetivo (em alguns momentos – «Ai! a presa era aquela criancinha, rei de mama, senhor de tantas províncias, e que dormia no seu berço com seu guizo de ouro fechado na mão!») ;
- adota o ponto de vista da aia (noutros momentos – «O bastardo morrera! […] O seu corpo lá ficara, com flechas no flanco, numa poça de sangue. Mas ai! dor sem nome!»).
2. Ação
Os acontecimentos narrados estão organizados por encadeamento, ou seja, as sequências são narradas seguindo a ordem cronológica.
3. Estrutura
a) situação inicial (equilíbrio)
Certo dia, um rei «moço e valente» partiu com o seu exército com o objetivo de conquistar novas terras.
b) acontecimento perturbador (desequilíbrio)
O rei é morto e o seu exército derrotado, ficando o reino à mercê dos inimigos.
c) série de peripécias
- A rainha chora a morte do rei, do marido e do pai do seu filho, ainda bebé, que, tal como o reino, fica desprotegido;
- A aia chora o rei e teme pela vida do seu príncipe, que amamenta, juntamente com o seu filho;
- O palácio receia o ataque do irmão bastardo do rei, um homem de coração escuro;
- Uma noite, o palácio é assaltado pelo tio do príncipe e a aia troca os bebés de berço;
- O filho da aia é arrebatado do berço do príncipe por «um homem enorme, de face flamejante, com um manto negro»;
- capitão das guardas anuncia a morte do tio bastardo e a morte do príncipe;
A rainha ergue o príncipe – futuro rei – do berço do escravo, são e salvo.
d) Restabelecimento da ordem inicial (equilíbrio)
A aia, perante a multidão que a segue, suicida-se com o punhal escolhido de entre os tesouros do reino. Estando o príncipe vivo e o tio bastardo morto, podemos inferir que o reino voltará a ter estabilidade, daí o sacrifício que a aia fez por todos.
4. Personagens
- não têm nome próprio;
- são caracterizadas pela sua posição social ou grau de parentesco – o rei, a rainha, a aia, o príncipe, o filho da aia, o bastardo… (Este facto confere universalidade e exemplaridade à história narrada.);
- relevo: o título «A aia» destaca a personagem principal, em torno da qual gira a ação. A sua caracterização é detalhada, evidenciando densidade psicológica e moral, ou seja, é uma personagem modelada («E ela um dia, por seu turno, remontaria num raio de luz a habitar o palácio do seu senhor, e a fiar de novo o linho das suas túnicas […].»).
5. Tempo
- referências temporais imprecisas («Era uma vez»; «Ora, uma noite»);
- acontecimentos principais – o assalto ao palácio, a troca dos bebés, a morte do filho da aia e a preservação da vida do príncipe – decorrem durante a noite. Já a aia suicida-se quando «subiam os primeiros raios do Sol».
6. Espaço
- referências espaciais vagas;
- espaço físico – toda a ação decorre no palácio, cuja localização não é revelada;
- espaço social – corresponde a uma sociedade hierarquizada, dominada pela nobreza, na qual a escravatura é praticada.
(Nota: O facto de as referências temporais – tempo cronológico e tempo histórico – e espaciais – físico e social apresentarem um caráter indefinido sublinha a exemplaridade da história, ou seja, a sua dimensão humana pode ser válida noutros lugares e épocas.)