Império Português nos séculos XVII e XVIII
Durante o domínio filipino, muitos dos territórios do Império Português foram atacados e conquistados pelos Holandeses, Franceses e Ingleses. Portugal perdeu o domínio comercial do Oriente e deixou de ser o único país europeu a comerciar os produtos desta região.
O Império Português ficou assim reduzido, em África, à Guiné, Angola, Moçambique e aos arquipélagos de Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe; na Ásia, às cidades indianas de Goa, Damão e Diu, à cidade chinesa de Macau e a metade da ilha de Timor; e, na América do Sul, ao Brasil.
A importância económica do Brasil
A longa Guerra da Restauração que Portugal teve de travar para garantir a sua independência obrigou a muitos gastos. Foi o Brasil que forneceu o dinheiro necessário a tais gastos com as suas crescentes exportações de açúcar para o Reino, pois este era um produto muito apreciado e muito bem pago na Europa e o rei cobrava impostos sobre todas as mercadorias que chegavam a Portugal.
O Brasil passou a ter, então, a importância que teve a Índia, no século XVI, como principal fonte de rendimentos, dado que a maior parte das riquezas que chegavam a Portugal deixaram de ser produtos orientais para serem produtos brasileiros, como, para além do açúcar, o algodão, o café, o cacau, a madeira e o tabaco.
A produção de açúcar
A produção de açúcar no Brasil era feita em grandes propriedades agrícolas – as fazendas – onde existiam extensas plantações de cana-de-açúcar e um engenho de açúcar. Estes engenhos eram moinhos onde se esmagava a cana-de-açúcar para se obter um líquido – o caldo de cana – que, depois de cozido, se transformava no melaço de que resultaria o açúcar.
Nestas fazendas, os seus proprietários viviam na casa grande e os escravos na sanzala. Os donos destas fazendas eram conhecidos por senhores de engenho. A descoberta de ouro e de pedras preciosas A partir de 1670, o preço do açúcar baixou na Europa porque os países compradores tinham já a sua própria produção noutras regiões da América. Portugal viu, assim, os seus rendimentos diminuírem.
A descoberta de ouro, em 1697, e mais tarde de diamantes e de outras pedras preciosas, no interior brasileiro, contribuiu para fazer o país ultrapassar as suas dificuldades financeiras.
Durante o reinado de D. João V, na primeira metade do século XVIII, chegaram a Portugal enormes quantidades de ouro, pois o rei reservava para si, de todo o ouro extraído no Brasil, uma quinta parte, conhecida por quinto ou quintalada, que era enviada sob a forma de barras de ouro cunhadas com as armas reais.
As Bandeiras
A descoberta de ouro e de pedras preciosas ficou a dever-se às grandes viagens de exploração do interior brasileiro que, com esse objetivo, e também com o de capturar índios, se organizaram nos finais do século XVII e inícios do século XVIII.
Estas viagens ficaram conhecidas por Bandeiras e os respetivos participantes, que chegaram a atingir a ordem das centenas, por Bandeirantes. Nestas viagens, os Bandeirantes, guiados por índios que conheciam os caminhos, tinham de percorrer longas distâncias, romper por entre a espessa vegetação e defender- se dos ataques de índios hostis.
O alargamento do território brasileiro
A descoberta de ouro levou muitos colonos brasileiros, acompanhados dos seus escravos, a deslocarem-se do litoral para o interior e muitos portugueses a emigrarem para o Brasil. Estes últimos chegaram a atingir um número tão elevado que o rei D. João V publicou leis a travar a emigração de portugueses para o Brasil.
Estas correntes migratórias, ultrapassando em muito a linha estabelecida no Tratado de Tordesilhas, alargaram o território brasileiro para oeste e para sul e levaram ao aumento da população no interior, dando origem a novas povoações. As fronteiras do Brasil viriam a ser definidas no Tratado de Madrid, assinado em 1750, no reinado de D. João V.
A mão de obra escrava
Os senhores de engenho recorreram à mão de obra escrava nas suas propriedades. Começaram por utilizar escravos índios, mas estes, habituados a viver em liberdade e da recoleção, não davam rendimento, não se adaptavam ao trabalho, adoeciam facilmente, revoltavam-se e fugiam para o interior onde se tornava difícil a sua captura.
Recorreram então a escravos trazidos de África e, como se pretendia que a produção de açúcar aumentasse, foi cada vez maior o número de escravos negros entrados no Brasil. O seu transporte era feito em condições desumanas, pois os negreiros, ou seja, os traficantes de escravos, sobrelotavam os seus navios para tirar o máximo de rendimento das suas viagens. Devido à falta de condições de higiene e à má alimentação a bordo, muitos destes escravos morriam durante a viagem, sendo atirados ao mar.
Condições de vida dos escravos
Os escravos eram considerados mercadoria, por isso, assim que chegavam ao seu destino, eram vendidos em leilão, nos mercados de escravos, variando o seu preço de acordo com a idade, o sexo e a robustez física.
Uma vez comprados pelos senhores de engenho, era-lhes imposto uma jornada de trabalho muito longa em que realizavam tarefas duras e penosas sempre sob apertada vigilância. Os maus tratos constantes a que estavam sujeitos levou-os também a revoltar-se e a fugir para o interior.
No seu encalço, partiam os capitães do mato que, ao serviço dos senhores de engenho, ficavam responsáveis pela sua captura. Os escravos que fossem apanhados eram marcados com um ferro em brasa nas costas e sujeitos a cruéis castigos públicos para servir de exemplo aos restantes.
Os que não eram apanhados organizavam-se em comunidades livres – os quilombos –que defendiam a todo o custo para garantir a sua liberdade.
Os Jesuítas e a escravatura
Contra a escravatura e os maus tratos dados aos índios e aos escravos africanos, protestaram os missionários jesuítas. Destes últimos, destacou-se como mais importante o padre António Vieira, pela poderosa argumentação com que denunciou tais injustiças nos seus sermões e nas cartas enviadas ao rei.